O arquiteto Siza Vieira, que não vai receber o Leão de Ouro na Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, em Itália, por estar em convalescença de um acidente, afirmou que este é um prémio que o «satisfaz muitíssimo».
Em conversa telefónica com a agência Lusa, o arquiteto do Porto lembrou que «já tinha tido um Leão de Ouro anteriormente, há não sei quantos anos, mas era devido a um projeto», ressalvando que «este é um prémio carreia e como tal é particularmente ensibilizante».
Como teve um acidente em junho - uma queda acidental numa escadaria, que resultou numa fratura do úmero - Siza Vieira afirma que está obrigado a «uma recuperação demorada», pelo que já comunicou que não poderá estar presente na quarta-feira na cerimónia de abertura, momento da entrega do galardão.
A direção da Bienal, em comunicado, sustentou a sua escolha, por ser «difícil imaginar um arquiteto contemporâneo que tenha tido uma presença tão consistente dentro da profissão como Álvaro Siza». E acrescentou: «Que esta presença se mantenha por um arquiteto que vive e trabalha na margem extrema atlântica da Europa só serve para enfatizar a sua autoridade e estatuto».
Para Siza Vieira a periferia geográfica «é uma dificuldade acrescida, mas é um facto que também cria uma apetência de informação e de conhecimento extra e isso também conta na formação», uma análise que aplica sua geração à que a antecedeu.
Para o arquiteto, «no período de formação, e anos depois, existia um grande isolamento que criava uma certa vontade de ultrapassar esse inconveniente, a que se vinha juntar, de certa maneira, uma muito antiga vocação portuguesa no sentido de uma pré-globalização».
Hoje, afirma, «essa ideia já está ultrapassada» porque «vivemos numa época, para o bem e para o mal, de globalização e hoje em dia, em Portugal tem-se conhecimento do que se passa de imediato».
Interrogado sobre se o nome dele podia servir como «bandeira» para os arquitetos que procuram trabalho fora de Portugal, foi categórico: «As bandeiras são outras, é a qualidade de cada um é o que está em jogo nessa possibilidade».
A notícia recente das facilidades no reconhecimento dos arquitetos portugueses no Brasil, são encaradas como «uma muito boa notícia».
«O sobressalto que isso provoca, no bom sentido, tem a ver com a dificuldade de permanecer em Portugal pelas dificuldades de trabalho conhecidas, por isso é uma abertura muito interessante», afirmou, lembrando que antes da crise que leva a esta saída de profissionais «já havia um grupo significativo de arquitetos portugueses que eram solicitados para trabalhos fora».
Álvaro Siza Vieira, de 79 anos, natural de Matosinhos, Prémio Pritzker 1992, é para a Bienal de Veneza um arquiteto que «aparenta seguir numa direção oposta à do resto da profissão, mas parece estar sempre na frente, intocado e destemido com os desafios intelectuais e de trabalho que coloca a si mesmo».
A bienal de arquitetura elogiou-lhe ainda a sabedoria, «a criação de edifícios de grande rigor» com «uma linguagem arquitetónica muito própria que parece tocar a todos».
Entre as obras arquitetónicas com a sua assinatura contam-se as piscinas de Leça da Palmeira, o edifício do Museu de Serralves (Porto), o Pavilhão de Portugal (Lisboa), a igreja de Marco de Canavezes, a reconstrução de edifícios no Chiado (Lisboa), o Museu de Arte Contemporânea da Galiza (Espanha) e o Centro Cultural da Fundação Ibere Camargo (Brasil).
Lusa